2.4.08

dos poemas de ontem a noite...



Faca:
vi muitas
e a carne sempre gela.

pior que a ânsia do quase-corte
é o saber-se, no fim, completamente
cega.






...

Olha o pássaro, meu bem,
deixa, que vou atrás seguir as pegadas no ar...

Oh, não, meu anjo,
mais que esquecer teu desamor
quero é lembrar que ainda tenho asas...




...




O tijolo do tempo não é a palavra.
dizer não (re)constrói e sequer existe:
quando muito, é papel.

e mesmo se tempo fosse casa, haveria sempre a chuva.

Fosse o tempo duro, pedra continuaria sendo a palavra e que tropeçamos.

Sangrasse, o tempo não seria carne

Morresse, tampouco seria vida




...








A poesia partiu;
pôs a fantasia e partiu
e fiquei lendo nuvens de chuva....

ela foi fogosa e cheia de tudo atrás do bloco
subiu o morro louca feito arco-íris a dar-se à Baco
(levou-me as cores todas, a vadia!)

Fiquei cinza bebendo angustia e solidão
já era quarta-feira:
ela, linda colombina,
eu, anti-folião.




...
O avião – mais um – se foi...
Naquele dia eram todos iguais:




o mesmo avião se repetia várias vezes
e sempre sumia
no céu do Flamengo.




Havia algo de feroz;
algo de feroz dormia em mim





eu era uma catástrofe tranqüila
e o sol, sem calor, molhava as costas






de repente: nuvens, oh, nuvens
tantas eram no céu do Flamengo!






O passarinho voou bem perto
corriam, corriam, corriam
e ofegavam ao longo da orla
e tudo era líquido sem saber.




O avião mergulhou no céu e virou chuva:
Sol também sabe chorar.







(HFD)

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