16.4.08

dos poemas de outrora...





ar-
re-
galados
pulmões:


ato contínuo:


dá-se o mais
íntimo carbono;
pesa a porra
espúria de ar
nos peitos.


E nem que
se
des
queira


a poeira
pasto
imposta,


pro-
cessada
a paz
que cada
célula tira,

toda
res
pira
(!)

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Borboleta






Há muito que penso em escrever
sobre a borboleta que, sabe-se lá porque,
um dia sentou junto a mim à beira mar.

De onde vinha?
Que dores trazia naquele vôo etílico?
Sentou-se por um instante...
Sentou-se e, sem querer sentar,
deitou um tanto de sol em mim,
como manhã que deposita serena
o caloroso lilás por toda a ilha.

E hoje, no dia em que quase esqueci
todo aquele rosa-vermelho que me
ofertava em sorrisos cínicos...
Hoje, no momento exato de vestir
uma camisa qualquer amarela;
Hoje, como espada de anjo que rasgasse o peito,
uma imagem distante daqueles
olhos cheios de lua
ali, a iluminar a praia toda,
cúmplice dos amantes insanos,
ali, sobre-humano canal de um sofrer tão dolorido...

Ah, não fosse pétreo o coração, certamente,
teria chorado... e tanto... e muito
que agora mesmo ainda seria 1° de janeiro,
nos ouvidos o som do mar...
teu cantar... salgado... aflito,
sombras de coqueiro dançando,
abraçando-te como um desconhecido
à tua brancura indecente e suave...

Ah, a paz de teu seio!
O desatino de tua boca devassa!
A solidão de tua voz!

Há certas horas que bem poderiam estancar...
Cessar o ritmo fluido.

E falavam aquelas mãos,
as mãos com que dançavas
teu repertório de loucura;
e falavam os bêbados de todas as esquinas
desejosos dum gingado teu.

E meu corpo...
os pêlos de ponta à ponta
arrepiavam-me pas du deux.

E meu corpo...
ah, meu corpo gritando tuas unhas!
Sim
a coreografia que me tatuaste falava tanto,
tuas legiões de escândalos falavam, falavam e falavam
a torto e a direito
e, agora mesmo, em algum lugar tuas roupas perdidas nas pedras
falam tanto ainda...

Caríssimo inseto.
Pequena canalha.
Tu, que me despiste doente de mim,
diante dum lume amargo
tão direta e sinuosa,
tu que te perdes
madrugada a fora,
em que leito, bandida, em que leito tu pecas?
Quem te ensinou a escapar assim pra longe, menina alada?
Em que ombro tens derramado teu suspiro de nuvem, tua volúpia,
o gemido sufocado?

Eu que nunca te soube uma vírgula,
ponho-me a sonhar-te palavra inteira
cheia de prosa
letra por letra
borboleta de rosa língua,
demônio cheio de graça!

Não!
Oh, não!
Não me escape da memória
doce-linda-amiga
irmã de desespero,
que te quiero!
Si, te quiero!






(HFD)

Um comentário:

Anônimo disse...
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