17.1.08

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Para mim e Olga Savary


Escrevo. Escrevo porque não tenho saída.
Escrevo porque não sei de mais nada.
Talvez pelo vinho aqui na mesa
por seu vermelho de ver melhor. Escrevo.
Escrevo por que um dia me disseste que podia e eu senti sinceridade no teu dizer.

Escrevo pra ti agora escrevo.
Escrevo. Escrevo e, não! Não te apiedes de mim! Escrevo.
Mira somente a poesia, peço-te. Que é só o que escrevo.

Escrevo por que tenho o teu endereço.
Por que tenho punho e um bando de coisa que não sei dizer. Escrevo.
E nem sei escrever, mas escrevo. Sem norte.

Escrevo que nem me sabe a morte.
Que nem me sabe a rima pobre.
Escrevo. Escrevo e é tão torto.
E é tão turvo e terno e tanto
Que escrevo. Que tento pelo menos sobre

Escrevo pra sei lá quem.
Escrevo e rasgo (me) papel
Escrevo e nem sei de onde
Escrevo. Agora por ti.

Por demônios como tu, escrevo.
Por loucura talvez escrevo. Pela flor.
De mentira.
Pelos meus escrevo.
Por tantos que nem chegarei a sonhar
Escrevo. Pela tarde. Afora.
É tarde, é noite.

Para todos e para que ninguém ouça!
Escrevo quando escrevo-esqueço
Quando nem sempre escrevo aqueço
vez em quando. Sem idade. Nasci!

Minúsculo escrevo mais
e maior. Mesmo quando não escrevo escravo
e ninguém vai lembrar desse rosto de vinte e três anos
no espelho do banheiro sua solidão na noite carioca
ninguém. Recentemente ninguém.

Escrevo sem rumo
Sem rumores escrevo
Retalhos da terra onde pisei
onde passo. Curto
Tenho passo curto
Tenho passo pouco
Passei poucas passei boas
Tenho muito mais que andar ainda
eu sei
de nada
um pouco.
Já vou indo. Volto. Voltei.

No mais escrevo
preciso mentiroso eterno
no mais ou mesmo. escrevo
Menos pra ti
que pra mim.

Sob o céu atual
o céu que comungamos
há os prédios e tantas outras vertigens...

o rosto de teu filho perdido
em qual rosto, em qual rosto se perdeu entre tantos
o futuro?
O olhar sem calor
a pele macia da moça
o mito. Os olhos do mito
Cego escrevo. Sem sossego.
De óculos escuros.

Repito tudo quanto ouço
Sem alarde: um grito
Sem conteúdo agudo aguado
é assim que escrevo
que tenho fé
gancho pendurado em lugar algum
escrevo sem apego
sem prego ou parede
sem chance
sem chave charme sem

qualquer pre
-tensão

qualquer pressentimento
pressão
sentir
sinto muito
sim, minto muito, e como(!)
tudo o que vier pela frente... como
sem ti

uma sonata bastante doce perde a cor
como uma pedra escrevo inerte inorgânico

já esqueci.
De todos aqueles sonhos bonitos
restou só isso...

HFD

Um comentário:

POESIA DO BELO disse...

Belíssimo poema, meu caro. Na dosagem exata de concretismo, versos livres e metalinguagem.
Visite meu blog quando puder
belopoema.blogspot.com

Geovane Belo