25.4.08

(roçar)

acordei
e ainda doíam
os ossos

não estares
era profundo assim

.

dizes
uma flecha

jamais alcançarás
alvura alguma

a letra tem cor de pomba
mas é mosca

.

roçar...
incendiar a noite

venha a palavra-vinho

deixar ranço na língua
como fruta seca

.

a noite da cidade é carne
que se consome:
combustível de automóveis lá fora

lá fora sou eu embriagado

.

a laje
onde fincastes os pés
vai caindo assim:
de má vontade
como quando a chuva é fina
na pele áspera da tarde

verdade
é palavra sem cimento

.

nem te falo mais da estrada.
mandar noticias
é não se tocar

.

boca
boca

entre: um deus
que não sabe beijar

.

encosta aqui:
bem onde me faltas

.

seio de nuvem
barba vagueia vasta
por ventre vasto vasto

vai ao sul
sem susto
língua de fogo

.

a duras penas
brancas de nuvem

o dia resvala
em estado de garça!

(o Tempo voa)

.

Um comentário:

Anônimo disse...

Harley

Tua poesia é sublime. Vago dizer assim, mas os predicados e adjetivos iriam talvez desaparecer
a minha espontaneidade diante da beleza. abs

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