20.5.11

I Simpósio Arte e Pensamento: a poética de Osman Lins


O Núcleo Interdisciplinar Kairós - Pensamento da Arte e da Linguagem (NIK/UFPA) promoverá, no próximo dia 30 de maio, o I Simpósio Arte e Pensamento que versará sobre a obra de Osman Lins. Abaixo, o cartaz e o release do evento.

O I Seminário Arte e Pensamento: a poética de Oman Lins, organizado pelo Núcleo Interdisciplinar Kairós – Pensamento da Arte e da Linguagem (NIK/UFPA), é o primeiro de uma série de eventos que se moverão sempre no interlúdio da literatura e da filosofia. Em sua edição de estréia, o evento se dedica a sondar a poética de Osman Lins, autor cuja obra constitui uma das mais grandiosas experiências ficcionais da língua portuguesa.

Não se sustenta a habitual distinção entre ficção e filosofia, aquela entendida como a produção de imagens que, embora com o atenuante de serem consideradas artísticas, não são reais, esta como o exercício do pensamento lógico à procura da verdade. Ficção é fictionis, a criação advinda do fingere, a ação de modelar figuras na terra, praticada pelo figulus, o oleiro. A filosofia é mais do que o pensamento enquanto representação de categorias lógicas sobre as coisas. Pois pensar é curar, donde a palavra “penso”, curativo. Pensar é ter desvelo para com aquilo que, por mais que se manifeste, sempre se abriga no silencioso velamento das questões que convocam a arte e o pensamento.
 
A ficção, em Osman Lins, é a olaria que pensa, em imagens que são questões, o lugar do homem no mundo, desafiando o leitor a procurar, em diálogo com a obra, o sentido do poema original que ele próprio é. Para que a arte, no entanto, possa operar no horizonte existencial do intérprete, faz-se necessário que ele não se prenda aos conceitos advindos de poéticas extrínsecas à dinâmica das obras. Trata-se da necessidade de, no diálogo com a obra, deixar que ela própria fale, pondo-se o intérprete à ausculta da poética que ela intrinsecamente instaura. Este caminho é o da ética das questões, em que éthos diz a morada do homem, ser pertencente, desde sempre, às questões manifestadas pela arte e pelo pensamento.

A fase mais experimental da poética de Osman Lins tem início com o desconcertante livro de narrativas Nove, Novena (1966), obra que, sob a égide de uma radicalmente inovadora elaboração dos elementos da narrativa, resgata a dimensão sagrada da linguagem e da vida. Após, vem o monumental Avalovara (1973), misto de romance, ensaio sobre o ato criador e prospecção ontológica. Sua obra põe radicalmente em xeque a conceituação vigente nos domínios da crítica de arte. Em sua poética, o ficcional se converte na plasmação de sentido do real e do homem. A imagem que sua obra projeta da experiência artística faz com que ela deixe de pertencer ao domínio do estético, compreendido em uma dimensão meramente formal, para se integrar ao domínio da verdade. Esta não se articula mais em um registro estritamente judicativo, que opõe o real ao falso (ou, como se costuma dizer, à ficção). A verdade é retomada em sua primazia manifestativa e fenomênica, de modo a se afigurar como o desvelamento (alétheia) das questões que o real dirige ao homem. O pensamento, em sua obra, vai muito além e em bem maior profundidade do que o exercício da lógica, articulando-se como a abertura ao questionamento do logos (a linguagem), e que é, enfim, a questão de onde a própria lógica provém, e que por isso mesmo lhe é subsidiária. À linguagem é atribuído o poder de suscitação órfica do mundo, fazendo sua literatura se aproximar da experiência cosmogônica dos mitos.

Vinculado ao Projeto de Pesquisa “O trágico na modernidade literária brasileira”, coordenado pelo Prof. Dr. Antônio Máximo Ferraz, o evento veicula a produção de pesquisadores do NIK/UFPA, e conta com a honrosa participação de dois convidados: a Profa. Dra. Sandra Nitrini, da USP – uma referência internacional nos estudos osmanianos, autora de obras capitais, tais como Poéticas em confronto: Nove, Novena e o Novo Romance, e Transfigurações: ensaios sobre a obra de Osman Lins – e o Prof. Dr. Sílvio Holanda, da UFPA, que abordará a dimensão ensaística da obra do autor de Avalovara.

Serviço:
Dia: 30 de Maio de 2011;
Hora: 8hs
Local: Auditório Setorial Básico I - UFPA - Belém, Pa.
Inscrições: Gratuitas.

Maiores Informações:  
 

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