10.8.10

Ainda Luiz...


Para Luiz Carlos França


[...]
Luiz, te perdemos. Luiz, a casa às escuras...

Não há poema que ilumine a noite das coisas.
Não, não há. Mas teu nome é teimosia, velho dragão.
Tua palavra, fogo.

Luiz, isso é ser poeta, mano: cuspir incêndio.
Plantar calor na terra e consumir de tudo
pra tudo ser mais...

Luiz, nem parece. Nem parece que justo hoje
eu e Josette, sentados, tomávamos café,
riamos e sentíamos saudade, quase 17:30,
como naquele dia à tua mesa repleta de pupunhas
e, num outro, bebendo a alegria do sol que morre na feira do açaí...

o dia acaba assim para todos nós...
[teatro em que a vida se vai
infinita de não dizer, calando, calando
numa fala que é sempre diversa]

[...]
Estamos aqui.
Mudos de tua voz, estamos aqui.
Diante de ti, Luiz – terei olhos para te ver daqui pra frente?
Diante de ti, poeta, nós,
teus amigos, teus amores, teus lugares, teus vícios, livros
nada temos a dizer...
Deixaste um silêncio enorme
nas esquinas da Cidade Velha,
em cada assento do Bar do Parque,
no Carmo, copos vazios
no peito de cada um...

E não é que é aqui, camarada, no fundo,
que a noite se faz novamente menina em ti [em nós?].
Pois não foi que voltamos pra cá: breu de tudo,
sem choro, nem vela, neste desfazimento de poeta,
início de criação?

[...]
Aqui, no vazio que tu e eu habitamos.
Aqui te perdemos...
[que já estás, eu bem sei, encantado num brinquedo de miriti]
e da tua falta há de surgir o verso novo,
simples, leve e cheio de cor
que enterraste em nós...

semente incandescente: teu nome é para sempre Luz

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